Medina Carreira: e de repente um murro no estômago


E de repente, em dez segundos, Rodrigo Guedes de Carvalho dá a notícia, mesmo no fim do jornal, como se nada fosse. Medina Carreira deixou-nos hoje, neste quente 3 de julho, onde os céus alaranjados antecipavam a triste notícia. Morreu sem nada poder fazer pela negra nuvem que paira sobre a economia portuguesa, as finanças públicas, a Segurança Social e a corrupção que paira na classe política nacional há décadas. Com ele aprendi muito do que sou enquanto jornalista e pessoa. Com ele, também errei. Graças a ele confirmei bem cedo a paixão que me ligava à política e à economia. Das muitas entrevistas que me concedeu, sempre na sua sala de estar, rodeado de livros e música, não há uma única que tivesse sido em vão. Todas elas davam em longas aulas. Em grandiosas lições. De Keynes a Marx, passando por Adam Smith, cada conversa era um tratado de vida. Com ele morre também parte de mim. Tratava-me por "minha filha", sempre disponível para explicar, para esclarecer, para evitar o erro. Porque para um homem como Medina, os números eram a vida. E a vida eram as pessoas. Os portugueses. O povo português. Que muito lhe deve o que por todos nós fez. Porque a liberdade com que exerceu a sua cidadania sempre foi límpida, em consciência, sem amedrontamentos nem fé nos degraus que lhe podiam tirar. É esse o seu maior legado: um homem livre e do bem. Até sempre, professor Henrique.

P.S. Em menos de um mês Portugal perde dois dos seus melhores: Miguel Beleza e Medina Carreira. Vamos todos, é certo, mas nunca achamos que a finitude tem data.

Comentários

Mensagens populares